domingo, 8 de novembro de 2009

Nó e Só

A madrugada caía e o relógio marcava três horas da manhã. A vontade de fumar era grande, apesar de não ser nenhuma viciada em nicotina e ter, durante anos, criticado sua mãe por ingerir aquela fumaça mal cheirosa pulmão adentro.
A improbabilidade de estar fazendo algo que sempre desaprovou a chocava.

O sentimento hipócrita aliado à culpa por querer sentir o gosto mentolado do cigarro nos lábios a fazia refletir, durante horas, sentada em sua varanda, de frente para o mar. Ela contemplava a imensidão do nada. No fundo, sabia que aquilo não era nenhum vício e, sim, a esperança de uma mudança significativa em sua vida.

Ignorou a voz da consciência e acendeu o cigarro. Não sabia ao certo o que buscava, apenas que aquele ritual noturno era uma fuga, uma tentativa frustrada de obter respostas para perguntas até então inquestionáveis. O locutor do rádio, que anunciava a grade de programação a puxou de forma brusca para a realidade. Era hora de voltar para o quarto e dormir, na companhia de seus travesseiros, tão fiéis e acolhedores, que testemunhavam ocultos o pesar de sua mente inquieta. Era mais um dia, insuportavelmente normal, que chegava ao fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário